Hoy firmamos una hipoteca. Seguiremos viviendo en la misma casa, solo que ahora es distinto. Pagaremos una hipoteca, no un alquiler. No, no es lo mismo.

Casualmente, nos han encargado, a los alumnos del master de BlankPaper donde estudio, una serie fotográfica sobre la crisis, entiéndaselo como la crisis finaciera en Europa y en el mundo, o lo que quisiéramos entender por crisis.

El vértigo por la hipoteca me hace centrarme en mi misma, en mi casa. Otra casualidad: todo se empieza a romper en ella, no como una anunciación al caos, más bien como un aviso.

“Es todo mentira!”

Igual que era mentira hace años cuando todo iba bien, cuando todos nos creíamos ricos, cuando las hipotecas se regalaban, es mentira que hoy estemos en el más profundo agujero negro. No. Eso es lo que nos quieren hacer creer los que nos han llevado a la situación que estamos, para conseguir conservar su status, para que su poder siga siendo igual.

Todo se rompe, pero no del todo. La bombilla se funde, pero no del todo. El soporte de la cortina se rompe, pero no del todo. El radiador se rompe, pero no del todo. El deságue se atasca, pero no del todo. No todo es inservible, mucho de lo que creemos que no funciona, sigue funcionando. Las botitas no son botitas cualesquiera. Son de Valentin, pero han sido de David. Tienen casi cuarenta años. Siguen funcionando.

Yo, hipotecada, autónoma y madre de família, ofrezco mi lomo a los latigazos.

Hoje assinamos o contrato de uma hipoteca. Vamos continuar morando na mesma casa, só que agora é diferente. Já não pagamos aluguel, pagamos hipoteca e não é a mesma coisa.

Por coincidência nos pediram, aos alunos do Master da escola BlankPaper, onde estudo, uma série fotográfica sobre a crise, entenda-se como a crise financeira vivida na Europa e no mundo, ou o que se queira entender por crise.

A vertigem pela hipoteca faz com que me centre em mim mesma, na minha casa. Outra coincidência: tudo começa a quebrar na casa. Não como uma anunciação ao caos, mas sim como um aviso:

“É tudo mentira!”

Da mesma maneira que era mentira quando achávamos que tudo ia bem, que éramos ricos e se davam hipotecas de presente, é mentira que hoje estamos no buraco negro mais profundo. Não. Isso é o que querem que acreditemos os que nos levaram à situação que estamos, para conseguir conservar seu status, para que seu poder seja o mesmo.

Tudo quebra, mas não completamente. A lâmpada se queima, mas não completamente, o cano da cortina quebra, mas não completamente, o radiador quebra, mas não completamente. O ralo entope, mas não completamente. Nem tudo está estragado, de certa maneira, as coisas continuam funcionando. As botinhas, não são botinhas quaisquer. Sim, são de Valentin, mas também foram de David. Têm quase quarenta anos. Continuam funcionando.

Eu, hipotecada, profissional autônoma e mãe de família, ofereço meu lombo às chicotadas.